Neste tour de force de narrativa impressionista, acompanhamos as sensações e perplexidades de um grupo de estudantes em Brasília, cujas vidas se arrastam sem um sentido maior, divididas entre a universidade, os compromissos sociais pouco sérios e o consumo cavalar de cultura de massa, representada pela TV, cinema, música, videogames, internet e derivados — como blogs, fotologs e YouTube —, sempre na expectativa de que algo significativo vá preencher essas vidas, da mesma forma que as imagens no computador preenchem a tela, muito embora o excesso de imagens e de informação torne a vida ainda mais vazia e as pessoas mais ignorantes. Em cada nova impressão de algum personagem palpita um esforço para encontrar em cada coisa um sentido, um signo, um sinal, que no entanto não existe, por isso impossível.
Revisitando o spleen ou tédio de Álvares de Azevedo, os jovens brasilienses de Vinicius Castro vão gradualmente percebendo que o tempo e o espaço não precisam de nós, antes nos ignoram olimpicamente, que a existência não é forjada por acontecimentos e peripécias, e sim pela somatória de impressões gravadas no cérebro, que não há de fato lições a aprender ou a ensinar, mas tão somente sensações às quais reagir, ou não reagir. Preferivelmente não reagir. Há poucas reações a tudo em Os sinais impossíveis: a ditos espirituosos, a rompantes ideológicos intelectuais, ao sexo. O niilismo perpassa a narrativa como uma névoa na qual despontam luzes de diversas cores, mas sem intensidade suficiente para romper o invólucro gasoso.
Meus olhos continuam fechados, vão se abrir daqui a pouco com alguma expectativa diante daquela coisa toda, a repetição que eu preciso sustentar e aceitar, a retomada. O mundo cheio de graça esperando que eu o ganhe de volta, que eu disperse todos os restos e o bote para funcionar, que eu viva deliberadamente.
Estatelado bêbado no chão, um dos moços reflete: “Eu temo pelo que a umidade e a sujeira do meio-fio podem fazer com minha calça, mas não é como se fosse fazer algo sobre o assunto”.
Em meio a essa inundação de descobertas precocemente envelhecidas e degeneradas em frustrações, emerge o romance vacilante de João e Luísa, rapidamente enredado na teia de relações humanas cada vez mais difíceis e sufocado pela série de rituais que tentam forjar a nossa realidade. O principal personagem, no entanto, é a própria narrativa, que por meio da descrição dos mais prosaicos objetos e gestos faz derramar de cada página um fluxo lírico quase ininterrupto de imagens embaladas por um vocabulário profundamente musical e pontuadas, aqui e ali, por diálogos de acentuado coloquialismo.
Os sinais impossíveis pode ser visto como um magnífico exercício de impressionismo na literatura, mas também como uma crítica poética à sociedade de produção e consumo, responsável pela banalização dos relacionamentos, pela falência de ideais e valores, pela deterioração dos padrões culturais e por limitar os sonhos da juventude a gratificações instantâneas, tão efêmeras quanto websites, nessa gigantesca engrenagem capitalista que reduz os indivíduos a uma massa virtual configurada para consumir ou ser “deletada”.