Não acho Mel Brooks extremamente engraçado. Seus filmes sempre me arrancaram mais sorrisos que gargalhadas, e seu grosseiro humor judaico totalmente isento de sutileza meio que me repugna. Nunca neguei, no entanto, a inteligência de suas sátiras, e o brilhantismo de suas idéias, das quais a melhor de todas foi, indiscutivelmente, a que lhe rendeu o Oscar de melhor roteiro original, pelo filme The Producers, de 1968. No discurso da premiação, Brooks fez questão de reproduzir o que seu coração lhe dizia: “Bpomp… bpomp… bpomp“.
A idéia de The Producers não poderia ser mais inteligente: decididos a dar um golpe em seus investidores produzindo o maior fracasso comercial da história do show business, um produtor fracassado da Broadway e um contador neurótico montam um musical chamado Primavera para Hitler —espécie de apologia ao monstro do século XX escrita por um nazista enlouquecido e dirigida por uma bicha louca — crentes de que o espetáculo ofenderá a todos os credos e raças em plena Jew York do pós-guerra. Mas o espetáculo carnavalesco, contra todos os prognósticos possíveis, resulta num retumbante sucesso, e os dois escroques vão parar na cadeia. “Escolhemos a pior peça, o pior diretor e o pior elenco… no que foi que acertamos?!”
O roteiro premiado foi transformado em musical premiado, o qual foi adaptado para o cinema com seus astros principais, Nathan Lane e Matthew Broderick, em 2005. A mão pesada de Brooks é substituída pela leveza de uma diretora, e Nathan Lane faz um Max Bialistock bonachão, menos grotesco que o de Zero Mostel.
Há uma lógica um pouco equivocada na brilhante idéia de Brooks. Uma narrativa que ofende muitas pessoas não é necessariamente um fracasso comercial; o famigerado Código da Vinci está aí para provar que, pelo contrário, pode render muitos milhões. Além do mais, por que um musical com canções belíssimas, ótimos intérpretes, bailarinas sensuais e números de dança otimamente coreografados, seria um fracasso?
Meu entusiasmo com a notícia de que o musical Os Produtores será montado em São Paulo murchou quando soube que a direção e o papel principal caberão ao rei do besteirol Miguel Falabella. O resto do elenco tampouco me empolga. A quase mulata Juliana Paes fará o papel da sueca Ulla, a loura burra da peça, e Leopold Bloom, o esquizofrênico contador com medo de mulheres, será interpretado por um obscuro galãzinho de telenovela. Alguém merece?